sexta-feira, 17 de junho de 2011

AGIR POR AGIR, SEM ESPERAR RECOMPENSAS




"Esperar que a vida lhe trate bem porque você é uma boa pessoa é como esperar que um touro não te ataque porque é vegetariano. " (Dennis Wholey )


De acordo com a doutrina de karma, uma pessoa pratica bons atos para receber bons resultados. Uma recompensa é dada para aqueles que dão aos outros e que praticam os preceitos éticos. Isto é o que o religioso comum procura. Entretanto, fazer o bem visando um retorno, apesar de ser melhor do que não o fazê-lo, é incomparavelmente inferior a fazer o bem pelos outros.

A conhecida história sobre o encontro do monge Bodhidharma com o Imperador chinês Wu (502-545), exemplifica o exposto, tirando dela uma de suas diversas significações. O Imperador perguntou: “Desde que me tornei o governante, construi templos e monastérios, permiti que muitos homens se tornassem monges, patrocinei muitas cerimônias, e fiz o que pude para promover o Budismo. Que méritos ganho com tudo isto?” Ao que respondeu Bodhidharma: “Nenhum mérito, Majestade!” Esta resposta confundiu o soberano, porque ele tinha uma visão errônea do Budismo. Não lhe havia ocorrido que ele deveria ter feito o que fez com a motivação de providenciar vidas mais felizes, a exemplo de Ashoka (Índia) e Príncipe Shotoku (Japão).

Fazer o bem, sem esperar recompensas. A nossa felicidade mental pode resultar de tal prática, mas não é o seu fim.

O “dar” funciona até nos menores exemplos. Se você partilhar algo com alguém, verá que fez um amigo. Uma pessoa que, influenciada pela Doutrina, faz um gesto de caridade a outra, logo descobre que suas recompensas excedem suas expectativas. Se ela possui um espírito religioso forte o bastante, verá que a felicidade e gratidão do recebedor são mais valiosas do que qualquer recompensa egoísta ela tenha desejado receber.

Experimentar isto é ter o coração e os olhos abertos para o mundo. É o começo daquilo que se conhece como sendo a mola mestra da ética budista: a compaixão.

Doação é um catalisador que produz amor entre o doador e o recebedor. Para aquele que havia até então ignorado as necessidades alheias, é uma descoberta espiritual. No começo então talvez a pessoa espere que por dar, vá receber sua recompensa kármica, mas na medida que a experiência se repete, ela esquece de sua recompensa, e dá pelo prazer de dar. Após certo tempo a pessoa chega a um estágio onde vê que seu prazer é egoísta. Doar revela um mundo de luz e paz; ele descobre que sem dar, sua vida em sociedade é sem sentido.

Falando do perfeito altruísmo, os budistas japoneses do passado usavam o termo “sanrin shojo”, significando uma combinação perfeita de doador, receptor e objeto de doação. Neste processo, o doador só tem a consciência do valor do receptor, e não do objeto doado em si mesmo.

“Dar” ou caridade, não é somente dar dinheiro. É também a atenção, o carinho. a compreensão, a palavra encorajadora, amizade, companheirismo; ensinar a Lei que ajuda a suportar os dissabores, etc.

Um axioma budista diz: “Faça aos outros aquilo que gostaria que os outros fizessem a você”. Com isto em mente, nós deixamos gradualmente qualquer perspectiva egocentrada de doação. No Budismo somos incitados a fazer aos outros aquilo que gostaríamos que nos fosse feito, sem esperar que os outros façam o mesmo...

O Budismo nos incita à ação desinteressada, temperada pela Compaixão-Desapego-Sabedoria. E não ao nosso único bem estar num suposto céu cravejado de esmeraldas, santos e delícias. A Lei lembra-nos que somos todos inter- dependentes, e que é de nossa responsabilidade também a situação daquele irmão ali na esquina da rua. Devemos ver que os atos do religioso não lhe reportam somente. Deve considerar parte integrante de sua equação o irmão que está ao lado, de forma que seus atos reagem também no ambiente ao redor.  O sentido de responsabilidade é enorme! 

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