domingo, 7 de agosto de 2011

O trabalho...dignifica o homem??

 Max Weber, Sociólogo Alemão


 Além de fonte de renda, sustento, alguns aborrecimentos e algumas alegrias, os anos que trabalho como Escrivão da gloriosa Polícia Civil do Estado de Minas Gerais levam-me à reflexão sobre vários aspectos relevantes da vida do homem em sociedade. Talvez porque em minhas mãos, ou melhor: nas mãos das Autoridades das quais sou mero agente, desembocam primeiramente boa parte dos problemas que a sociedade vive e possui, muito antes de aportarem – já devidamente autuados e registrados – nos refrigerados gabinetes de promotores e magistrados, o contato com o problema e com suas causas e consquências é mais direto, mais no ponto do calor dos fatos.
Uma das reflexões mais constantes a que o dia-a-dia policial me conduz é acerca do trabalho. Não do meu trabalho, ou do trabalho dos colegas, mas da importância que o trabalho tem em uma sociedade que se diz organizada.
A Constituição brasileira de 1988, texto magnífico criado no auge dos anseios democráticos da nação recém saída de mais de duas décadas de regime militar, consagra como princípios fundamentais da República “os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa” (Art. 1º, IV) e, como era de se esperar de uma Carta Magna verdadeiramente democrática e cidadã – eis seu apelido – alguns de seus primeiros artigos, um capítulo inteiro, aos direitos sociais e dos trabalhadores (Arts. 6º a 11).
O ilustre pensador Max Weber, alemão que viveu entre 1964 e 1920, em sua célebre obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, cunhou a expressão famosíssima “o trabalho dignifica o homem” que, embora isolada de seu contexto original, muito fala sobre a importância do trabalhador e do próprio trabalho em uma sociedade, qualquer que seja ela.
Conheço bem a realidade do trabalho, pois, muito antes de entrar pela estreita senda dos concursos públicos, dos quais já prestei algo em torno de quinze, já trabalhava. Ainda criança, lembro-me de vender alface na feira, salgado na fila da carteira de habilitação, bolo na rua, chocolate na escola e outras gostosuras que minha mãe preparava. Muitas vezes eu mais comia as gostosuras que as vendia, o que me rendia mais broncas que dinheiro. Mas, ainda assim, aprendi a lidar com o trabalho e com os valores que ele agrega à vida das pessoas.
Já mais crescido, passei por rádio, lojas de parafusos e de informática, raramente estando um só período que seja sem trabalhar, salvo quando já na faculdade. Até que, finalmente, consegui passar pelas portas de um concorrido concurso público.
Hoje, na Polícia, muito me impressiona ver alguns, ou melhor, muitos jovens com idade de estar no mercado de trabalho partir para outro mercado, o das drogas. Há poucas horas ouvi de um garoto de 17 anos que ele não trabalha simplesmente porque a lei proíbe “de menor” (sic) trabalhar, o que, de fato, não é verdade. Volta e meia ouço isso! Sempre a mesma desculpa: “meu filho não trabalha porque a lei não deixa”, “eu não posso trabalhar”, “a lei não me deixa trabalhar”… São tantas e tantas desculpas de que “a lei não deixa” que, simplesmente não entendo por qual motivo eles não fazem o que a lei deixa, que simplesmente é estudar. Entretanto, como é mais conveniente, vai-se traficar, servir de olheiro, aviãozinho, vapor ou do que vocês quiserem chamar.
O mesmo menor, que hoje escapou exatamente por ser menor, disse que ganharia R$ 20,00 por algumas horas observando se a polícia não aparecesse. A polícia apareceu, ele foi conduzido à Delegacia e não ganhou os R$ 20,00 prometidos. Pelo menos o “patrão” tomou cana.
Daí volto ao ensino weberiano. O contexto de sua frase é muito mais amplo do que o dito popular que ela eternizou: “Desempregados e atiçadores de lutas de classes já não são vistos com bons olhos, pois se recusam a trabalhar, e, se o trabalho dignifica o homem, não importa em que se trabalhe, contanto que trabalhe e que leve uma vida sempre produtiva”. Por certo, não é à toa que um ex-sindicalista, ex-atiçador de luta de classes, portanto, que hoje dirige a nação, não quer incentivar o trabalho a essa fatia tão necessitada de melhores condições de vida, os adolescentes que, se não forem arregimentados para o mercado de trabalho, vão sê-lo para o tráfico. Porque, afinal de contas, trabalhar não mata nem avilta, pelo contrário: dignifica.
até o próximo,
Mônica Coelho

Um comentário:

  1. Foi Benjamin Franklin, e não Webber, quem cunhou a frase "o trabalho dignifica o homem", cerca de 150 anos antes.

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